História

Antes da Fundação

Após a primeira década do Séc. XX, por volta de 1913, foi quando o Amora Foot-Ball Club começou a organizar-se e a evoluir como clube de futebol. Manuel Saraiva de Carvalho, Joaquim Diniz e tantos outros deram início ao clube da nossa terra. A sua capacidade organizativa e atlética alcançada em outros clubes, emprestaram aos amorenses os seus conhecimentos dinamizando o Amora Foot-Ball Club.

Como descreveu o Jornal A Voz D’Amora de 15 de abril de 1917 “Joaquim Diniz formou o Amora Futebol Clube, que progrediu a olhos vistos, tendo como «capitão geral» Saraiva de Carvalho, que apenas se conservou nesse lugar até Joaquim Diniz se retirar para África, em julho de 1914.”

Após a retirada de Joaquim Diniz, o clube seguiu a sua carreira abrilhantada pelo título de Campeão do Concelho em 1915. Foram diversos os amorenses a dar seguimento a este trabalho, como João Baptista Cunha e Faustino Pereira. Em 1916, mais propriamente em outubro, ganhou novamente o título de Campeão Concelhio frente ao Sport Lisboa e Seixal.

Muito havia a fazer pois não havia campo para efetuar os jogos ou os treinos, os quais eram realizados em qualquer local de terra batida onde existissem condições. Nesta altura, era muito utilizado o largo em frente ao lavadouro e não podendo ser ali era noutro local, até que chegou a altura de arranjar um espaço onde se pudesse disputar campeonatos a sério.

Nesta altura, os jogos eram efetuados aos domingos, contra clubes das terras vizinhas, Seixal, Aldeia de Paio Pires, Arrentela e Torre da Marinha. Estes jogos não tinham entradas pagas e a receita resultava de alguns peditórios que se realizavam pelo campo, o chamado “peditório da bandeira”.

O Campo do Cabo da Marinha

Foram vários os locais escolhidos para instalar o campo. Uns falavam da Quinta da Maria Pires, outros a Quinta do Conde, quintas da nossa terra, mas tinham o seu custo e o dinheiro não abundava ou praticamente não existia.

A solução passava agora pelo Cabo da Marinha, uns terrenos a norte da povoação, junto ao Rio Judeu, que alagavam com a subida da maré. Foram abertas valas e construído um muro em areia, de forma a drenar as águas e assim se poder jogar futebol.

Foi Manuel Saraiva de Carvalho quem forneceu as madeiras necessárias para a construção das balizas e os prumos para a marcação daquele que viria a ser o primeiro campo do Amora Foot-Ball Club.

Durante muitos anos, este seria o campo onde a recente formação amorense realizou os seus jogos.

1921

Segundo a memória dos mais velhos, foi durante as celebrações do Dia do Trabalhador (01 Maio 1921), num dos piqueniques habitualmente realizados na Quinta de Princesa e da Infanta, que um grupo de amorenses decidiu perante todos criar as condições para melhorar a prática do futebol na Amora.

Neste grupo encontravam-se, entre outros, Mário de Carvalho, Guilherme Pestana, João Baptista, Julião Garcia, Tomás Alves, António Soares, Joaquim Monteiro, Oswaldo Reuter, Guilherme Reuter, Joaquim Zacarias, Leopoldo Grilo, Carlos de Azeitão, António Polícia, Álvaro dos Santos, Jacinto Caixeiro, Alberto Malacato, Tomás da Cachamouca e António Manta.

Esta data ficou reconhecida, até hoje, como a data da fundação do Amora Futebol Clube.

As Sedes

Decidiu-se fundar a sede do clube, que se veio a situar na Rua das Amoreiras. Até lá, as reuniões eram realizadas na taberna da Júlia Quim-Quim. A abertura da sede foi um grande passo para a evolução e funcionamento do Amora.

Com a sede a funcionar havia um local de convívio e de encontro para todos, incluindo um bar. A melhoria das condições e o aumento do número de sócios fez crescer as receitas ,e assim já conseguiam pagar a renda, água e luz.

Algum tempo depois, a sede mudou-se para o Largo Machado dos Santos, numa casa com pátio onde se podiam realizar alguns bailes, fados e festas, angariando receitas necessárias ao clube.

Anos mais tarde, na Marginal Silva Gomes e junto ao Coreto, num rés do chão no Edifício do Museu Vitória, inaugurou-se o que os amorenses chamavam de sede, mas era um bar com sala de jogos, bilhar, dominó, damas, loto, rádio e televisão. Juntamente com a Secretaria localizada no Largo 5 de Outubro, no primeiro andar por cima de uma loja, formavam o que se chamava de sede do clube. Foram estes os locais de Sede do Amora FC, até ao dia em que se mudou para o campo da Medideira.

Campo da Medideira

Havia uma questão que não estava resolvida, o Campo do Cabo da Marinha não tinha condições para campeonatos a sério.

Um dia, estava o Sr. Mário de Carvalho no seu estabelecimento da Fonte de Cima, quando lhe entra pela loja um casal nortenho, da zona do Douro, procurando uma propriedade para comprar (eram emigrantes regressados do Brasil).

O Sr. Mário de Carvalho que sabia da intenção do seu amigo, Sr. Lima, em vender a Quinta da Medideira, logo convidou os forasteiros a acompanhá-lo à quinta que se situava mesmo em frente da sua loja, apresentando o casal ao proprietário.

Foram dar uma volta pela quinta e pelas suas dependências e o negócio concretizou-se de imediato.

A partir desse momento, o Sr. Mário de Carvalho, passou a relacionar-se e a conviver com o casal chegado do Brasil, o Sr. José e a D.Maria, tendo estes ficado seus amigos e fregueses do seu estabelecimento.

Desde então, o Sr. Mário de Carvalho começou a deitar o olho a uma parte da quinta que, paredes meias com a Fábrica da Pólvora, era uma zona de pouco cultivo onde nem as árvores cresciam e que seria o local ideal para o campo da bola, como era dito na altura.

Logo o imaginou murado em volta, paredes meias com o muro da fábrica (previa-se problemas com a Direção da fábrica, mas até isso foi ultrapassado pois o gerente e amigo Sr. Martins não se opôs), o pior era convencer o amigo José da Medideira.

Um dia, numa das visitas que lhe fazia, dispôs-se a com ele dar uma volta pela quinta, encaminhando-o para o local escolhido, e aí lhe disse: “Ó Sr. Zé este terreno é o pior que a quinta tem, não tem vinha nem árvores … este sítio vinha mesmo a calhar para aqui fazermos o campo de jogos, o Sr. Zé podia arrendar-nos isto…”, mas o nortenho, não gostando muito da ideia, respondeu-lhe “Ó Sr. Mário… nem pensar nisso”.

O amorense não insistiu, mas passados dois dias regressou à quinta para almoçar com os seus amigos e voltou à conversa do terreno. A D. Maria, que viu o seu marido renitente em não facilitar o arrendamento, disse-lhe “ó Zé, faz isso ao Sr. Mário, não vês que ele é nosso amigo?”.

A ajuda resultou, e graças à D. Maria, o proprietário concordou em arrendar o terreno ao Amora. Concretizado o arrendamento, feito na presença de muitos sócios, só se pensava em deitar ãos à obra, não fosse o Sr. Zé da Medideira arrepender-se.

Munidos de pás, picaretas e enxadas, os Amorenses revolveram o terreno, retirando restos de árvores, videiras e até taparam um regadio que por ali passava, de modo a construírem o campo que possibilitasse os jogos de futebol. Estava encontrado o Campo do Amora FC, o Campo da Medideira.

O Equipamento

Nessa altura, jogava-se à bola descalço, por isso decidiram adquirir alguns equipamentos, mas faltava o dinheiro. Arranjaram alguns sócios, mas ainda assim o dinheiro não chegava e foi aí que realmente as coisas começaram a tomar um rumo mais sério.

Formou-se uma comissão composta por Mário de Carvalho, Guilherme Pestana e João Baptista, para visitar todos os comerciantes da terra (entre outras empresas podemos destacar a Fábrica de Vidros, que na altura existia) e angariar dinheiro, para concretizar o sonho do grupo de futebol. Três tostões daqui … três mil réis dali … e lá se foi resolvendo o problema da angariação de fundos para os primeiros equipamentos.

Entretanto era necessário comprar as camisolas, mas havia uma decisão a tomar… de que cor? Foi fácil chegar a uma decisão, pois todos gostavam do azul (quem sabe por causa de “Os Belenenses”) e assim ficou a camisola azul e a cor branca para o calção. Até esta decisão, o grupo tinha usado outros equipamentos diferentes, um era de camisa branca e calção preto e um outro era de camisa de listas verticais preta e vermelha e calção preto.

Só faltava agora a bola de futebol a sério e ela também fez parte das aquisições do grupo pois a velha trapeira ou bola de couro, cheia com uma bexiga de porco, já não servia.

O Emblema do Amora

Segundo se consta, pois não existem documentos que o comprovem, o emblema do Amora Foot-Ball Club, terá nascido, da imagem de uma cápsula de cerveja da altura, a Pilsner, em que a estrela de cinco pontas era o fundo principal, outros dizem que terá sido usado como talismã contra qualquer influência funesta. A dúvida persiste ao longo dos anos até que se encontre algum documento a confirmar a real intenção dos seus autores.

Este primeiro emblema do clube, um cinco saimão (a estrela de cinco pontas) com uma bola de futebol no centro e as letras AFC dentro dos bicos superiores da estrela, foi posteriormente atualizado durante os anos 60 pelo Sr. Leone Henriques, a pedido do Presidente da Direção, Sr. Prof. Teodemiro Costa, tendo sido colocado um escudo à volta da estrela e da bola, com o nome AMORA no topo do mesmo, tendo desaparecido as letras AFC.

O Estandarte. Década de 40

O estandarte do Amora Futebol Clube foi doado em 02 de Maio de 1946, por uma comissão de Senhoras que angariaram pelos habitantes de Amora, os fundos necessários para a aquisição do mesmo. Este estandarte bordado a fio de Ouro e Prata sobre seda azul, tem como motivo principal o primeiro símbolo do clube, um cinco saimão (a estrela de cinco pontas) com uma bola de futebol no centro e as letras AFC dentro dos bicos superiores da estrela.

O nome Amora Futebol Clube no topo e a data da fundação em baixo, completam o conteúdo do estandarte que tem ainda uns entrelaçados no topo e um rebordo também bordado a ouro. Este foi um trabalho realizado gratuitamente pela bordadeira profissional Sr.ª Edelweiss Correia e Silva, que desta forma se juntou à comissão de senhoras em prol do clube da nossa terra.

As romarias à Medideira

Desde sempre, dois acontecimentos mobilizavam os amorenses:

A 15 de Agosto, a procissão em honra de Nossa Senhora do Monte Sião e todos os domingos, o jogo do Amora Futebol Clube.

O campo da Medideira, passou a ser local de romaria e reunião não só de sócios, mas também de simpatizantes adeptos do Amora.

A hegemonia da equipa a nível distrital obrigou o clube a expandir o seu estádio e teve o seu pináculo na receção aos três grandes com 30.000 pessoas a assistirem aos jogos.

Apesar da redução de lugares, foram registados 5.000 adeptos em 2017, no jogo que ditou o regresso do Amora FC aos Campeonatos Nacionais.

Condecorações

A Medalha de Mérito Desportivo da Câmara Municipal do Seixal foi atribuída ao Amora Futebol Clube em 1987.
A Medalha de Mérito Desportivo foi o reconhecimento do concelho ao clube, por este se ter notabilizado na prática desportiva, na formação de jovens jogadores e por ter contribuído para a divulgação do desporto no concelho do Seixal.

Em 1992, o Instituto Português do Desporto e Juventude, condecorou o Amora Futebol Clube com a Medalha de Bons Serviços Desportivos.
A condecoração destinou-se a galardoar o Amora por se ter destacado por serviços prestados em favor do desporto nacional, pelo valor da sua actuação na prática de actividades desportivas.

Em 29-10-1982, foi concedido ao Amora o Estatuto de Instituição de Utilidade Pública.
Este estatuto é atribuído às pessoas colectivas privadas sem fins lucrativos que prossigam fins de interesse geral em cooperação com a Administração Central ou Local em termos de merecerem essa distinção.
Ao longo destes 100 anos, o Amora formou centenas de jogadores, prestando um serviço ímpar ao desporto local, distrital e nacional.

O Amora futebol Clube viu aprovada no dia 25 de Março de 2021 pelo IPDJ – Instituto Português do Desporto e Juventude, I.P., a sua candidatura à certificação da Bandeira da Ética.
Desta forma passará a fazer parte de uma comunidade de instituições comprometidas com a ética no desporto e reconhecidas pelo trabalho que desenvolvem neste âmbito.